23 setembro 2009

O Lado Negro da USP

Acho que nunca dei muita atenção a isso no blog, mas venho a informar algumas experiências dentro da universidade (USP).

Relembro do ano de 2005, no segundo ano de cursinho, todo empolgado, me inscrevo no vestibular da FUVEST. Sem contar aquele maravilhoso manual que falava sobre a USP, as unidades de ensino, como o IME – Instituto de Matemática e Estatística, além do guia de profissões entre tantos outros. Parecia um paraíso, um outro mundo, uma idealização total.

Me inscrevo e passo com grande folga no curso de Licenciatura em Matemática, optando pelo noturno, para assim poder trabalhar de dia. Pois vamos dizer que não vim de uma família com um planejamento familiar para poder se dedicar com exclusividade aos estudos.

Bem, 2006, primeiro ano, primeiro semestre, e quando vou olhar minha grade de horário, lá estava: Geometria Analítica, com uma das aulas sendo na sexta. Converso com os responsáveis na instituição, sobre a questão do sábado, e a “solução” era conversar com o professor. Bem, a professora era mais uma das que não passava a lista de presença (então não teria problema com faltas), as provas seriam nas aulas de segunda; contudo, eu tinha que me virar com aquilo que perderia na sexta. Bem, primeiro ano, o nível da matemática universitária foi um choque para mim, achei muito difícil GA, pois tanto o professor quanto o livro que seguia, o qual a aula se baseava em copiar o livro na lousa, eram extremamente anti-didáticos. Não consegui acompanhar. E ai tive minha primeira DP.

Confesso que no primeiro semestre eu já pensei em abandonar o curso, devido a todo o idealismo que eu tinha da USP que foi por água a baixo. Talvez até tivesse abandonado, senão fosse pelos excelentes professores que tive em Cálculo 1 e Laboratório de Matemática; que me deram algum sinal de esperança, e que pude ver ainda mais maravilha na matemática, de modo a dizer para mim mesmo: “Vale a pena”.

Para a minha surpresa, no final de junho teve o período de matricula para o segundo semestre, e eu conheci um tal de Jupterweb, o sistema online ( sistemas2.usp.br/jupiterweb/ ) onde se fazia a matricula, e haviam várias opções de disciplinas e horários para se matricular. E então optei por não fazer nenhuma matéria de sexta-feira.

Bem, segundo semestre e foi quando eu percebo que as disciplinas eram uma grande bagunça e que tudo dependia – talvez 100% - do professor que ministraria a disciplina. Em Gravitação, uma matéria de física, tive uma extraordinária primeira aula, que foi um resumo da História da Gravitação; mas foi só. Após isso, o professor se prendeu totalmente a fórmulas, contas, demonstrações, e exercícios, de modo que ele era anti-didático, e se usava coisas que eu apenas estudaria no Calculo 3, como devidas parciais, vetor gradiente; e não foi por menos, que eu mais várias pessoas pegaram DP. Mas novamente, “Calculo 2” e “A Matemática na Educação Básica” me motivaram a continuar no curso. E assim foi meu primeiro ano. Curioso, que em 2008, cursei novamente Gravitação, foi um outro professor, e foi TOTALMENTE diferente do anterior, pois o enfoque foi histórico, de modo a analisar muito as mudanças de paradigmas, identificar o pensamento dos períodos; e a menos parte se tratava de contas; e eu passei. Logo, os professores meio que faziam o que queriam.

Já no primeiro ano entendi porque haviam muitas e muitas pessoas, no noturno, no sexto e sétimo ano; assim como muitas não conseguiam terminar o curso em 10 anos. E porque quando chegava período de matricula, era uma verdadeira correria para “Saber como era o professor”. Era bem simples, se o professor era ruim, que ferrava o aluno, era antididático, tinha uma margem grande de reprovação, então as pessoas buscavam fugir de se inscrever em tais. E ao mesmo tempo, sempre haviam pessoas dizendo: “Olha aquele professor vai dar a matéria tal, se inscreve nela.” Pois os bons professores, aqueles que explicavam bem, ou que você tinha mais chance de passar, eram poucos. E é comum encontrar pessoas do terceiro ou quarto ano que ainda não fizeram Calculo 2. E logo eu comecei a minha lista negra de professores e a branca.

2007, primeiro semestre, e novamente, não pego nenhuma matéria de sexta; mas sem muitas opções dadas pelo Jupter, curso apenas 3 disciplinas (12 créditos). Pego minha primeira matéria da educação (Faculdade de Educação), e era um OUTRO MUNDO, totalmente diferente do IME. E em Calculo 3, não conhecia o professor, mas era um péssimo professor, era totalmente diferente o modo como ele apresentava o Calculo do outro; de modo que ele amava usar GA e parametrizar, não era didático quanto ao seu método; eu não entendia bulunfas, e assim como muitos outros, DP. Bem, no ano seguinte, cursei Calculo 3 com outro professor, que era excelente, excelente mesmo, e eu passei até com certa facilidade e entendo tudo muito bem.

Segundo semestre de 2007 e eu já comecei a me ver apertado pelas disciplinas de sexta, pois algumas, pareciam que para todo o sempre, apenas seriam oferecidas com aulas na sexta. Já tive meu primeiro problema no Jupter, de “falta de opção” do que me inscrever. E cursei 3 matérias, sendo uma delas, Termodinâmica, com aula de sexta. Bem, o professor também não era muito didático, tinha a língua presa, falava para dentro e não dava para entender muito bem o que explicava; mas até que dava para ir. Conversei com ele sobre as aulas de sexta, e ele me disse que a aula de sexta eu poderia fazer no IF (Instituto de Física) com uma outra professora, numa janela que eu tinha; ele falou com a professora e acertou tudo. Bem, vou lá pro IF, e um simples problema, o conteúdo que os dois abordavam eram diferentes; no IME, ele corria com a matéria, já no IF, ia mais devagar, de modo, que no final do semestre, no IF não chegou nem a ver a metade do que se viu no IME; fora do enfoque, exercícios, entre outros, serem bem diferentes. Ou seja, acabou não valendo por nada, não deu para acompanhar, apesar de ter ralado e suado para não pegar DP, peguei. (nisso eu já peguei trauma das matérias da Física). Mas também fiz uma matéria na Educação, que foi tranqüilo.

Primeiro semestre de 2008, faço Estatística 1, pego um excelente professor que já havia pego uma vez; e passo, apesar de ter dado um bom trabalho, pois ele ministrou a matéria do jeito dele, de modo que não se comparava em nenhum livro de estatística, além de usar as próximas denotações e não definir nada. Também pego GA, e uma aula era de sexta, (cedo ou tarde teria que cursá-la); mas peguei um excelente professor, tão bom, que mesmo não assistindo as aulas de sexta, e dando uma acompanhada com um livro, consegui com muita tranqüilidade aprender e passar. Foi uma experiência totalmente diferente do primeiro semestre. Também, como dito, passei em Calculo 3 com um excelente professor também. Outro problema, foi o Jupter, devido a falta de opções, tive que cursar apenas 3 disciplinas.

Bem, em 2007 aconteceu um fato muito chato. Fizeram mudanças no currículo do curso para quem ingressou a partir de 2006. De modo que no segundo semestre de 2007, me matriculei em Geometria e Desenho Geométrico I, com um excelente professor (parecia professor de cursinho), um dos mais badalados do IME. Mas devido a essa mudança, 2 semanas depois, fui automaticamente excluindo da disciplina pelo Jupter, como muitos outros, o que me forçou à apenas fazer 3 disciplinas no semestre. E nessa mudança, também tiraram do currículo uma matéria de computação que havia cursado, logo, ela não prestou para nada, perdi créditos, e tal foi computada como Extra-Curricular, e não obrigatória.

Segundo semestre de 2008, nem preciso dizer o quanto já estava com raiva da perseguição do Jupter. Pego gravitação novamente, que passei, como já disse; Calculo 4, porem com um péssimo professor, não só eu, como muitos não entendiam quase nada – e outro que vinha com aquela história de parametrizar tudo – eu, e muitos outros não foram aprovados. E uma das piores coisas aconteceram em tal semestre, Estatística 2 e Geometria e Desenho Geométrico I (aquela que havia sido excluído) tinham aula de sexta. Conversei com os dois professores. O de estatística era bom até, contudo tratou de forma bem fria meu caso, dizendo que eu poderia fazer as “provinhas” (que seriam dadas de sexta) na outra turma (mas teria q matar a outra aula de geometria para isso); além, de ser muito diferente (inclusive as notações e método de fazer as coisas) do que eu havia aprendido em Estat. 1. A disciplina de Geometria, foi pior ainda, pois o professor não tinha muita expressão nem didática, mas era uma pessoa de um coração imenso; mas devido a perder as aulas de sexta, e metade das outras aulas por causa das provinhas de estatística; eu me perdi de modo tamanho, que houve casos em que cheguei na aula, e eram provas (e eu não sabia que teria prova em tal dia), ou mesmo aconteceu de eu perder prova de geometria, sem saber, enquanto fazia provinha. E por mais que me esforçava; foi o meu pior semestre na USP, com 3 DPs, em Estat. 2, Geometria, Calculo 4; apenas passei em Gravitação.

Foi o meu pior semestre, eu fiquei muito furioso, com raiva da USP, uma raiva bem profunda. Além da burocracia que foi para aprovar o meu estágio, de modo que quase que o perco. Aliás, com tais reprovações, não seria mais possível terminar o curso de 2010 de modo algum, do mínimo, 2011. Foi um bom período no qual fiquei pensando: “O que vou fazer?” Nessa altura do campeonato, já conhecia e via no IME, muitas pessoas que estavam no sétimo e oitavo ano! Pois também entrou um tal de “Período Ideal de Matricula” no Jupter, de modo, que para quem pegou DP, ficou atrasado, entre outros, passou a se ferrar de vez na hora de fazer matricula.

2009, começou com a pior mierda possível, quase sem opção nenhuma para escolher do que cursar; nada batia; fora o período ideal de matricula, que estava me amarrando. De tal modo, que fiz 2 optativas (1 FE e 1 IME) e 1 obrigatória; porém, felizmente, todas foram com excelentes professores. O da FE o melhor até então, que eu tive na história; que meu cargas novas de animo e determinação para ir até o final.

Segundo semestre, e lá veio todas as DPs para se fazer de novo. Senão amarraria ainda mais o curso. Pior, jupter dessa vez me limitou de vez; de modo que apenas me matriculei em 2 matérias, outros 2 fiz requerimento, mas em POEB não foi aceito. Pois só ofereceram uma turma para Quarta a noite (o dia da Educação, para os cursos noturnos de matemática), para toda a USP; e ai se inscreveram dezenas de pessoas a mais, do que o Jupter permitiu. Fui na primeira aula, e o professor falou sobre esse constrangimento do Jupter, que deveria se chamar Era (a mulher de Jupter na mitologia, pois perseguia seus filhos), por perseguir e querer acabar com a vida dos alunos. Estatística 2 e Álgebra Linear, não tive opção, ambas tinham aula na sexta; contudo, conhecia jah o professor de Álgebra, foi com o que passei em GA. Calculo 4 então, apenas abriram uma única turma, um único professor (não tinha como fugir).

Além de serem 3 matérias bem difíceis, o professor de Calculo dá certo medo, não há aquela afetividade com o aluno; e estranhamente marcou suas provas para os dias em que cai a primeira aula. Ou seja, essa semana tivemos a primeira prova, e um amigo meu, devido a sair tarde do trabalho e o transito que não colaborou com as chuvas em São Paulo, chegou às 20h30 na USP e perdeu a prova (começou as 19h20 – 20h45), e ele me disse que acha que vai trancar Calculo 4. Bem, interessante, é que esse amigo, é mais um que pegou DP comigo em Calculo 4 ano passado. Já Álgebra, estou até que conseguindo ir; gosto de trabalhar na linha das matrizes, e o professor é excelente; contudo, a sua P1 foi marcada para uma sexta, conversei com ele, e ele me permitiu fazer com outra turma numa terça. Contudo, para isso, eu tive que matar uma aula de Estatística; o que complica visto que só vejo as aulas de terças. Porém, felizmente, a professora de estatística tem uma excelente didática; o pior mesmo é ter que compensar no estudo do livro (é um livro que explica bem, mas muito no blábláblá, e o torna cansativo com tantos textos e páginas), e ao mesmo tempo, não ver as aulas de sexta, pois realmente ela explica muito bem.


O que me chama a atenção aqui é a idéia de alguns professores tem quando explico o motivo pelo qual não vou na sexta, de guardar o sábado e tals. Alguns encaram isso como “Esse aluno está arranjando desculpa para não estudar, para não vir para a USP, para não assistir aula e passar; e ficar se divertindo com a sexta a noite.” Pois de fato, conheço pessoas, inclusive adventistas que fazem isso. Fora, que mesmo na USP, há um pessoal cabular aulas de sexta, para ir em alguma festa na ECA, ou beber. Não preciso me defender sobre isso, quem me conhece sabe, não tem nada a ver, não é preguiça, não é comodidade, não é querer dar uma de espertinho. Fora que sexta, sábado e domingo, talvez sejam os dias mais atarefados que tenho; de modo, que sobra pouquíssimo tempo para eu estudar nos fins de semana, ao mesmo tempo, felizmente, é quando, consigo relaxar um pouco das atividades estressantes da semana.

Mas minha revolta em questão se está quanto a USP, se de inicio, se em 2005 naquele material para se inscrever no vestibular, informasse que no IME:
  • São poucos os professores bons (em questão de notória, didática, afetividade...);
  • Que tirar um 5 (média) é encarado como um 10;
  • Que dificilmente você encontrará alguém que não pegou nenhuma DP;
  • Que no noturno, a maioria demoram mais de 5 anos para se formar;
  • Que matemática e física são os cursos mais difíceis da USP, com maior numero de desistência e pessoas que traçam; assim, também, os que mais têm vagas remanescentes;
  • Que a metodologia de avaliação é você se sacrificar gastando horas fazendo listas e se matando para tirar uma nota nas provas; e que isso, no final, vai depender do exercício que o professor colocará na prova; de modo, que um exercício, uma Integral, uma primitiva que você já quebrou a cabeça para encontrar, mas não encontrou, pode fazer seu semestre todo ir por água abaixo;
  • Que se você sair da linha, o Jupter vai te perseguidor, cada vez mais arduamente até o final do seu curso;
  • A facilidade, dificuldade ou impossibilidade de passar na matéria vai depender muito do professor que você pegar;
  • Que muitas pessoas não terminam a graduação em 10 anos;
  • Que 90% do que você vê, você nunca vai usar na vida, principalmente para lecionar aulas de matemática (a menos se for prof. universitário)
  • Que os serviços administrativos na USP têm uma burocracia e lerdeza que te deixa extremamente enraivecido. (“Assine aqui e volte daqui 15 dias para ver se já está pronto.”)
  • E as greves então...

  • Bem, talvez eu tivesse pensado 2 vezes antes. Ou então, escolhido cursar logo de manhã e tentar ficar sendo bancado pelos pais, até completar o curso em 4 anos. Se fosse isso, este ano eu já estaria me formando.

    Isso para não contar, as horas de transito e viagem, todos os dias para chegar até a USP
    Interessante que tenho um amigo no mestrado na medicina, e outro no doutorado da matemática, e que reclamam pois os tutores deles estão enrolando-os; o que era para demorar 2, 3 anos, já está no terceiro, e com cara que irá mais 1 ou 2 anos..

    Contudo, para quem reclamarei? É publico, logo, quem liga?