19 dezembro 2008

IX Campori da AP - Raízes


Dos dias 20 a 23 desse mês, ocorrera o Campori da Paulistana, num local bem próximo, ao lado, (do outro lado da rua) da Clínica Adventista (de repouso, tratamento natural, algo assim) de São Roque. E eu, fui.

De inicio, eu me encontrava numa dúvida tremenda se iria ou não. Pois desde 2005 que não perco um Campori; a síndrome de abstinência do tipo “Como posso passar esse ano sem ir ao Campori?”, o desejo também de ter uma oportunidade do tipo que só um Campori, ou acampamento oferece para desenvolver relacionamentos e amizades, tais quais eu queria e precisava desenvolver com alguns dos meus desbravadores. Fora, que já havia prometido para vários deles e mesmo de fazer coisas lá. E também, amigos, como o Davis que estava lá, ralando, desde domingo, construindo o portal (o que eu gostaria de fazer) e que sei que me aguardava. E outros amigos, como, ex-desbravadores da unidade Zeta (quando eu era conselheiro), como o Fernando e o Ítalo os quais pouco tenho o privilégio de conversar e passar momentos com eles durante o ano, é mais em atividades do clube, trilhas e acampamentos. Também, o desejo maluco que quase me deixava louco para eu ir me refugiar no monte, sair da cidade, ver paisagens nas quais poderia descansar minha visão, contemplar mais a Deus, a quietude do interior, ar fresco e puro, céu estrelado, sujar de terra, perder o conforto da cidade, dormir numa barraca, no meu saco de dormir e isolante térmico, fazer minha bota mexer, ouvir aqueles tocantes e penetrantes sermões de campori, poder interagir com outros clubes, ver as pessoas frescas e de “primeira vez” com nojo de lama, chuva, dormir na barraca, usar latrina, e coisas do tipo hehe. E mesmo, porque eu estava precisando ter alguns momentos para relaxar a cabeça de modo a não pensar na faculdade e no trabalho. Mas

Por outro lado, havia muita coisa para estudar e trabalho para fazer para a faculdade; e também, poderia descansar mais fisicamente, dormindo até tarde em tais dias; e mesmo sair com amigos. Contudo, também que garantia teria de sucesso dessas coisas? Ainda mais num feriado, onde o espírito de “fazer outras coisas” prevalece. Bem, então, após alguns telefonemas não atendidos, decidi ir para o Campori.

Quarta-feira (A IDA)

Sim, de terça para quarta eu havia dormido pouco. Contudo, já estava bastante empolgado de ir para o Campori, a adrenalina já estava forte. Acordei, fui para a BASF, e com certa pressa para o dia logo encerrar e ir para o Campori. Cheguei em casa, ainda toquei um pouco de trompete, jantei então fui arrumar a mochila; um pouco tarde cheguei no ônibus do clube (num dos dois) para ir para o Campori. Todos estavam me esperando, aliás, me ligaram para apressar para ir embora, quando ainda eu estava em casa.

Já sabia o que aquela noite nos aguardava, quando chegasse – carregar muita coisa, caminhar bastante, e praticamente, dormindo nada. Então, levei uns protetores de ouvido, no ônibus coloquei tais a fim de abafar o barulho que a garota fazia, indo para o Campori, estando eles com os ânimos à flor da pele. Mas de pouco adiantou; contudo, creio ter conseguido pelo menos ter relaxado um pouco o corpo e a mente e atingido talvez o estágio 1 ou 2 do sono algumas vezes. Ao mesmo tempo, prestava um pouco de atenção nas conversas que ocorriam, tentando reconhecer o que rolava, identificar e analisar o comportamento e pensamento de tais pessoas. E o pior, notei que mal conhecia 30% dos desbravadores do meu clube.

Bem, por volta das 00h30 chegamos ao local. De noite não havia como ter muita noção das dimensões do local, mas achei o local pequeno para um Campori da Associação Paulistana. E também, percebi que ainda estavam construindo o banheiro (o que é normal). Chegamos na área de acampamento, e o portal erguido, longe do que pretendia, mas ficou de uma forma rústica que deixa um aspecto legal por mais simples que possa ser. As barracas devidamente desalinhadas, mas tudo bem.

Então logo começa as várias jornadas de aproximadamente 500m, não uma, nem duas, nem 20 vezes, da área de acampamento até o ônibus carregando quilos e quilos de mochilas, coisas da cozinha, entre outros. E foi triste quando de fato, tive certeza que não trouxeram a corneta. Mas também nesse caminho todo, que fora acabar por volta das 3 horas da manhã. Já notei o “espírito” de alguns desbravadores, unidades; pude já conversar e dar um abraço no Davis, entre outros. E dar algumas ordens. O engraçado é que os desbravadores já chegaram esgotados, e poucos foram aqueles que logo não dormiram.

Bem, umas 4 horas da manhã pude então ir dormir. Abri o isolante térmico no chão, e um dos problemas... é que fazia pouco tempo que haviam colocado grama, assim, o chão estava ladrinhado, e cada quadrado era literalmente uma “tartaruga”... a fim de corrigir isso, coloquei o edredom como colchão, mas que não ajudou nem 15%; alias, fui burro, e ao invés de colocá-lo por debaixo do isolante, coloquei por cima, assim, perdi o isolamento, e estava perdendo calor pelo edredom, e passei um frio legal aquela noite, que chegou a 7 graus; contudo, somado com a umidade, e multiplicado pelo fator vento, pois era crista de uma montanha, rota dos ventos que percorriam um longo vale, a sensação térmica era de 2 graus. Mas, o fator sono, fez com que após uns 30 minutos, eu conseguisse dormir.

QUINTA-FEIRA (o primeiro dia)

6 ou 7 horas da manhã lá estava eu de pé. Após um pobre café da manhã (ainda bem que levei leite de soja e pão integral), já cumprimentei algumas outras pessoas, como o pessoal do Guepardos Reais – Eliezer, Fernando, Vitor, Pedrão, o novato que não lembro o nome, mas chamavam-no de Finger, e o Eliezer pai. Fui com o Davis fazer o trabalho final e mais demorado no portal (nas alturas)... mas foi quando percebi um problema de logística: “sisal insuficiente”. E ainda precisava fazer móveis de acampamento, cercar área de acampamento, latrina. Fui ver com o Everaldo, e realmente, não compraram o suficiente, então, que fizesse tudo primeiro, se sobrasse, então iria para o portal. – Sim, fiquei um pouco triste, apenas pioneiros de coração, montadores de portais fanáticos conseguem entender o que foi aquela noticia. Mas bem, logo, dei a tarefa para a unidade Omicron cercar a área de acampamento, isso que demarquei os lugares das estacas, expliquei como poderiam manter o alinhamento, como fazer tudo. Mas assim que terminaram as estacas, o Carlão veio reclamar, para eu fazer aquilo direito, porque estavam fazendo tudo torto. Ai fui com o Davis, aproveitei alguns desbravadores sem ter o que fazer mas com disposição para ajudar; e certamente eles gostaram muito. Contudo, recreação que foi interrompida e conflitada quando outros em ociosidade plena e desorientados começaram a jogar futebol, queimada, ai largaram a recreação pela diversão; apenas alguns poucos continuaram, pois gostaram de meter a mão na massa, abrir buracos na lama com uma escavadeira, colocar troncos pesados e soterrar e pressionar a terra. E ficou muito bom o trabalho deles. Bem, e durante tudo isso, conheci novas pessoas no Campori, revi alguns já conhecidos de outros tempos, ou quais só vejo em Campori. O estranho é que parece que poucos tem permanecido firme no clube, grandes lideres sumiram, a família Breda sumiu, apenas, acho que vi a Natalha em alguns momentos. E também nesse período recebi algumas, diria umas 2 ou 3 “facadas” (entendes Fred?), mas tudo bem... hehe

Enquanto isso, parecia um consultor de área de acampamento, me perguntavam sobre tudo; e ora tinha que ir aqui e ali. E uma das principais, era questionamentos de “banheiro”, e sobre A LATRINA. Hehe. A qual demorou para ficar pronta. E mesmo após pronta, ainda havia uns detalhes técnicos, o qual tive que ir dar um jeito junto com o Davis, para as pessoas finalmente começarem a usar. Depois construi ainda um varal bem grande, devido ao tamanho do clube; mas em geral, usaram 40% da sua capacidade e uma lixeira que reamente não ficou boa. Só quando terminei lembrei de como era que realmente fazia tentei dar uma ajustada, mas não ficou boa, e mal foi usada. Não a re-fiz, pois já estava sem muitos ânimos para tais atividades. Estava, de certo modo, a cada segundo lutando com pensamentos de tristeza e descontentamento devido a precariedade do clube, de como estavam desorganizados, as pessoas a toa, os desbravadores sem fazer nada, o “Espírito de Campori” que não estava presente no Clube Omega, pelo menos. E de que eu, nem o Davis estávamos ali para fazer tudo, e os outros ficar no oba-oba, o Campori era para eles, para eles se desenvolverem, fazer as coisas, aprender, e tudo mais, e não nós.

Após tudo terminado. Contudo, nem alinhei as barracas, de modo algum faria isso, com mais de 15 barracas; já com vários quilos de roupas, colchonetes e tudo mais dentro, e centenas de espeques fincados e já amassados aquela altura. Dei meu momento relax, e fui ali para área de acampamento do Guepardos Reais, o qual fazia parte em 2006. E dei um pouco de assistência para o Eliezer, Fortine, Gustavo em alguns detalhes do portal, mas sem impor, deixando claro “o portal é todo seus, tenham o prazer de fazê-lo com as próprias mãos. Mas ainda assim, pude fazer alguns nós e amarras, e fazer parte de tudo aquilo; e com amigos muito, inexplicavelmente, queridas e amadas, sendo que o Fortini uns 4 anos atrás, era o capitão da Zeta, sendo eu, seu conselheiro. – “Deus, que privilégio. Obrigado.” – e alguns clubes ao lado estava o do São Jorge, e o Italo, também, ex-zeta, estava ali e pude ter alguns momentos curtos de conversa com ele.

E fiquei em torno de 1hora ou mais na fila do chuveiro, conversando com o pessoal do Guepardos. E depois, um delicioso banho gelado, com a água direta do poço. Contudo, os maus acostumados a banho frio, sofrerão e gritaram legal. Enquanto que foi muito revigorante e gostoso. Após dois dias tomar um banho, e depois de um dia de bastante suor, trabalho árduo, os músculos bastante exigidos; e então um banho gelado para revigorar tudo aquilo. Apesar da falta de luxo, precariedades, tais são os banhos mais gostosos e prazerosos!!! Como quando, após uma dura trilha, horas suando como um porco, você se depara com uma cachoeira.

E então teve a abertura. E sinceramente, uma das aberturas mais estranhas, sem sal, sem Espírito de Campori que já presenciei. Contudo, um dos principais fatores, ao meu ver, era a falta de foco dos clubes, haviam muitos clubes conversando, fazendo barulho, totalmente ausentes do evento; de modo, que tudo parecia sem significado algum, mas sim, apenas um ritual que deveria ser cumprido, e as pessoas gritar de emoção. Por que? Bem, porque foram ali para isso. É o que parecia. É de modo fora, que o barulho e o som baixo, impediu que o pessoal pode apreciar e prestar atenção no culto. Contudo, começou a fazer um frio tão forte, mas muito forte e intenso mesmo, se via a névoa passando entre nossos braços e pernas, junto ao intenso e forte vento. O frio fora tamanho, que serviu de peneira, os desinteressados saíram, foram para suas barracas. Contudo, os demais ficaram. E ali ficou eu o Lincon o Lucar e a Paula se não me engano. O frio fora tamanho que nos ajuntamos forte, para aquecer um ao outro, e até mesmo, usamos a capa de chuva para dar maior isolação térmica nas pernas. E aí sim, com isso pudemos desfrutar de uma belíssima e inspiradora meditação; junto com aqueles que se atreveram a ficar.

O pessoal ainda estava meio acabado da noite mal dormida anterior, e foram logo dormir, sem muitos problemas. Inclusive eu, que me deitei por volta das 23 horas.

Naquela noite, evitei pensar, mas a pergunta não fugia: “O que será desse Campori?” E apesar das boas expectativas, pois é amanhã que as coisas realmente começam, e eu, já sem ter muito que fazer, poderia então aproveitar do meu modo, relaxar, descansar.

Sexta-feira

Raiou o dia, acordei cedinho, acordei o pessoal que ainda dormiam nas barracas. E no café da manhã, bem, fui comer no Guepardos Reais. E nisso já os primeiros momentos do dia com a galera ali, conversando... porém dividido, pois ora era ali, ora era com o Omega.

Também pude conversar com várias pessoas naquela manhã, inclusive estava tendo gostosas conversas com a Patrícia, irmãzinha da Paula – Que legal. Então teve a meditação naquela manhã, mas eu mal pude ver, pois, fiquei junto com o Davis esticando as lonas das barracas, arrumando os espeques. E também tivemos que dar um jeito na entrada da latrina, pois havia sido destruído a entrada, de modo, que a pessoa ficaria exposta para usar tal, ou seja, praticamente ninguém usaria, sobretudo, as meninas.

Então, após teve inicio então ao carrossel de atividades. Contudo, eu mais fiquei observando a prova do arco e flecha do que propriamente fazendo outra coisa, e conversando com alguns desbravadores que me acompanhavam. Até que teve o cross, ai eu acompanhei Omega e depois o Guepardos. Alias, recebi um trote do Guepardos após ter dificultado para eles numa das provas, jogando água do meu cantil para deixar uma subida escorregadia. Jogaram água em mim, mas que bom, estava um calor de fornalha, e no dia anterior já me havia queimado tudo o que podia. Nisso combinei uma brincadeira com a Sheila. Fomos até o clube, peguei um dos saquinhos da latrina, ela me deu um pacote de fubá, fui até as pias externas, coloquei uns 4 litros de água de ali, meti o fubá e mexi para ficar com uma cara “daquelas coisas”. E fui até a latrina meio que escondido, fazendo hora ali. Ai a Sheila começa a me provocar para sair logo do banheiro e chama uma unidade dos garotos pequenos para ir até ali para ficar mexendo comigo, tentando levá-los por perto. Ai ela começa a falar: “Evandro, vai logo. Sai da latrina!” – “Poh! Não pode mais nem minjar em paz.” – “Vai! Sai logo!” – “Calma ae, já estou saindo.” Aí quando saio com aquela sacola enorme e falo “estava apertado” – já indo na direção deles – um deles me questiona “Até parece que tudo isso é xixi.” Então, eu disse: “Aé!? Então veja.” E logo peguei e comecei a jogar, neles, só que tive problemas técnicos quanto a isso, e não saiu quase que nada; mas consegui que caísse algumas gotas neles. Nisso a Sheila meio que tenta atrair a atenção do pessoal, ai eu começo a correr atrás dela para molhar ela – já que o plano não saiu como planejado – ela se esconde atrás de uma desbravadora falando “me ajude, me ajude”. Ela, bem inocente, vira e fala “Não é xixi é água.” Ai eu pego aquilo e quase que viro tudo na duas, ai ela vê aquele negócio amarelo e com umas pelotinhas, e pensa que não. Ai foi a diversão que só. Depois tomaram de mim, sai correndo, mas conseguiram me molhar também.

Acabou a brincadeira, ai seria horário do almoço, aí fui almoçar com os Guepardos. Alias, que comida maravilhosa fizeram lá, Taco! Então, de tarde mais atividades. Contudo, a maior parte fiquei na fila da prova do Arco-flecha. E na fila pude conversar com várias pessoas que ficaram ali também, normalmente que participariam. Até que participei, bem, dei um tiro. Hehe.. não deu nem para tentar direito, pegar as manhãs. Já o Eliezer, na primeira tentativa, acertou no alvo, no vermelho, o primeiro do dia! Contudo, outras suas ou três pessoas repetiriam a façanha, o Vinicios (Omega), a Débora (Guepardos). Contudo, uma das coisas mais aproveitáveis ali fora a conversa que tive com o Mendes, sobre várias coisas, em especial o Banco de Dados do Desbravador.

Dali tudo, hehe, nem tomei banho, já emendei , pois no sábado iria embora mesmo, e a fila do banheiro estava enorme. Já estava meio que tudo atrasado e eu não queria perder a programação a noite por nada. Coloquei o uniforme mais um monte de roupa, pois já estava friozinho no inicio da noite, e se fosse como a noite anterior, a coisa prometia calafrios. O tempo também com cara de chuva me fez levar a capa.

Após a janta com o Guepardos fui para lá com, sei junto ao Guepardos, próximo ao Omega. E a investidura, foi zuada, a mais zuada de lideres, que já vi; talvez, só a da UCB foi mais, contudo, pelo número de pessoas, não havia muito que esperar. E pior, a galera estava numa dispersão, um barulho, terrível. O Espírito de irreverência assolava toda programação. Até que então começaram a cair as primeiras gotas. O frio estava forte também, mas a roupa extra deu conta. E a capa de chuva também estava dando conta da chuva.

A chuva foi uma bênção, assim como no Campori da UCB. Logo as pessoas que estavam com muito frio, indispostas a ficarem, e sem capa de chuva saíram; e foram para suas barracas. No resultante, das 1500 pessoas aproximadamente, devem ter restado 500, e olha lá. Ou seja, os que realmente queriam estar ali, ouvir a mensagem. E foi uma incrível mensagem, muito boa mesmo. E até me impressionou algumas coisas, como o Junior, que emprestou sua capa de chuva, e ficou ali apenas com a sua jaqueta. Foram momentos maravilhosos. E então, logo depois, fomos para nossas respectivas áreas de acampamento.

Na área, encontrei o pessoal e queria conversar, já eles, nem tanto, estavam muito acabados e sonolentos para isso. Contudo, o Erick, Rafael e o Elton haviam acabado de chegar. Logo o pessoal foi dormir; apesar que deu um pouco de trabalho fazer uns irem dormir, ou pelo menos, aquietarem para os outros dormir; mas nada, que apelar a consciência não resolva.

O Everaldo, acabadérrimo, foi dormir, contudo nos informou que um pai estaria vindo buscar seu filho. Bem, eis que inicio umas 2, 3 horas de profundas conversas com o Elton, sobre os diversos aspectos, em especial, sobre O GRANDE DESAFIO de 2009. Também foram gostosos momentos de oração e tudo mais; no alto das montanhas – sim, essa hora já havia parado a chuva.

Foi uma noite inesquecível. Todo o Campori já havia compensado apenas por tal noite. Então fomos dormir. Em mais uma noite naquele aconchegante mar de tartarugas.


Sábado

Acordo cedinho, cumprimento boa parte do pessoal, aquele “bom-dia”, inclusive no Guepardos. E ainda estava fortemente impressionado por tudo da última noite. O Elton assumiu mais o clube para aliviar um pouco o Everaldo que estava um pouco exausto.

Eu ainda estava muito impressionado mesmo com toda a conversa naquela noite. Foi meio que uma espécie de um grande chacoalhão. Como se Deus enviasse um anjo, esse me pegasse pelas mangas da camisa e me chacoalhasse forte, para frente e par atrás; como dissesse: “Evandro, está esperando mais o quê? Aqui estou eu te rogando, É AGORA!” E confesso, que por um lado me arrepiou, e ainda arrepia cada nervo do meu corpo; uma forte impressão de missão, dever, ação, responsabilidade, de uma dura batalha a travar, sem precedentes. Agora é tudo! E se não for tudo, se falhar por um milésimo, então vai ser nada, derrota total.

Contudo, na mesma manhã, na hora do café da manhã, com uma alimentação destruidora; houve intrigas. Formou-se a fila. Contudo, como regra, apenas seria liberado quando TODOS, os noventa e alguma coisas, desbravadores do clube estivessem na fila, prontos, ninguém mais na barraca, ou a toa na área de acampamento. Então, os “conselheiros” Henry e Renan ficam impacientes, egoístas, fora de si (ou melhor, muito em si) pois queriam comer, independente da ordem, do clube e tudo mais. O Elton o repreendeu, tentou explicar-lhe, mostrar-lhe o sentido da coisa. Contudo, o resultado foram palavras de grosseria e raiva. Passou um tempo, e ele continuou a resmungar aos demais. E eu vendo aquela cena, de “um conselheiro” manifestando tal testemunho aos demais desbravadores que o contemplavam; aquele desejo aumentava cada vez mais: “Evandro, você tem que fazer alguma coisa.” Então, num momento ele falou:
- Parece que não me respeitam mais!

Mas que tristeza, quando é que irei aprender as palavras do sábio Salomão: “Repreenda o tolo e será amaldiçoado.”
- Renan, você fala que os outros não te respeitam. Mas o que você tem feito para conquistar o respeito das pessoas? Respeito não se impõe, se conquista. E tudo isso que tem feito, apenas diz para as pessoas não te respeitarem.

Pronto. E não deu outra, sem preliminares. Ali se desenrolou uma pequena discussão. Da minha parte, eu tentando fazer com que ele entendesse; o que, naqueles alguns minutos, toda a estrutura de pensamento, ideologia de vida, crenças, expectativas, visão do mundo e de si, a forma como pensava, o seu caráter e tudo mais... que tudo mudasse; naqueles minutos, que ele entendesse, arrependesse, convertesse do mal caminho e passasse a ser um líder, um conselheiro exemplar, que pelo menos entendesse o que significava união e espírito de equipe. Mas, não deu outro, ouvi as mais diversas palavras de raiva, ódio, magoa, egoísmo e tudo mais, que podia ouvir. E mais, ainda ameaçou de me arrebentar.

Nessa hora, confesso que uma tentação a qual a muito tempo não tinha apareceu. Quando falou em brigar. Todo meu desanimo e decepção já fizera com que o nível racional diminuísse e as emoções aumentasse. Como que uma memória em cada célula, pude sentir meu batimento cardíaco diferenciar, o meu organismo agira de tal modo, que era idêntico, exato, o que me fez lembrar, de quando mais jovem, lá para os meus 14, 16 anos, era uma briga de rua, briga de gangue, ou mesmo quando subia no tatami para um komite de karate num campeonato da Meibocan. A voz da tentação assolou fortemente minha mente: “Vá lá, dê um murro nele.” “Bata nele até ele não ter mais energia para se levantar e falar mais nenhuma abobrinha.” “Ele acha que pode com você? Vai lá e mostre que você realmente sabe lutar.” “Mostra pro estomago dele o que é um ‘guiaco-zuki’ [um soco poderoso, muito usado pelo agente Smith no filme do Matrix] bem aplicado. Ou um ‘mauache’ [um tipo de chute para nocautear o oponente] na orelha dele para ele mandar ele pro chão.” E, sinceramente, meus músculos encheram de adrenalina, já estavam preparados, prontos, e pedindo, clamando, para aquilo acontecer. Era como dois carros no farol acelerando no porto-morto, aguardando o farol dar verde, para o racha.

Contudo, ao mesmo tempo, a voz do Espírito Santo falou fortemente clamando, para não fazer, que não deveria fazer isso. Ele estava com a mente ‘apimentada’ não havia nada o que pudesse fazer. Aquilo seria uma reação egoísta. Que em pensamento, eu matei, pequei. Todas aquelas fortes impressões juntaram-se a isso. E graças a Deus, me contive, nem fiz qualquer movimento; mas em minha mente, travou-se uma dura luta. Dura. Posso ter havido vitória quanto a manifestação. Mas na mente, por um bom tempo, eu pequei, pois o desejo de agredir, de raiva havia no meu coração. E demoraram vários minutos de luta para ele totalmente sumir.

Após isso, uma profunda tristeza me assolou. Pensei em toda a missão que agora havia. E o ocorrido me deu uma percepção mais clara, de como será difícil a luta. De modo, que parecia como se fosse um médico em meio a um campo de batalha da segunda GM, revirando os corpos em meio a praia, procurando algum soldado vivo e que demonstrava qualquer sinal de esperança que sobrevivesse caso o ajudasse. Ao mesmo tempo, triste em pensar em todo o Campori, o sermão que teve na ultima noite, e tudo mais, contudo, como muitos desbravadores não apreciaram aquilo, como todo o Campori não estava fazendo sentido. – Tudo errado. O que estamos fazendo aqui? Tudo isso foi vão? – Martelava minha mente.

E assim fui para o culto. Junto ao clube, com o Davis e o Rafael. O Omega chegou meio tarde e fez questão de sentar bem no fundão, onde não dava para ouvir a mensagem, as pessoas estavam dispersas, desconcentradas e com muito barulho. Então fui com o Davis e Rafael sentar mais a frente, junto com os Guepardos Reais. Então, presenciei uma das mais solenes mensagens e poderosas pregações dos últimos x dias (sendo esse x, um numero grande). Eu estava profundamente impressionado, reflexivo, investigativo e pensativo naquele momento; e realmente, muito triste por muitas coisas que ocorreram, e pelos próprios pecados que cometi e que ainda acariciava. Então, foi quando o pastor fez um apelo para as pessoas irem a frente. Claro, provavelmente 99% das pessoas foram ali por emoção, sem clara consciência do que tudo aquilo realmente significava, do que quer dizer. Mas ao ver aquela cena, uma clara impressão veio a minha mente “Tudo isso não foi em vão.” Isso me impressionou tão forte, e que devido ao meu estado emotivo mais ativo; eu, uma pessoa, que para quem conhece, não chora por nada, que alguns chamam de homem de gelo, não contive as lágrimas e que demorou um bom tempo para sumir. Contudo, o ingrediente que mais as despertou foi a alegria misturada com um coração que estava quebrantado; e ao ver as pessoas que iriam e estavam sendo batizadas ali, mais lágrimas surgiram, contudo a alegria aumentou exponencialmente; sobretudo ao ver o Felipe Scardeli do meu clube, alguém que eu tinha perdido a cabeça algumas semanas atrás. Imensa gratidão tomou posse do meu coração. E aos poucos, as emoções foram sumindo, a razão retomando, e eu redobrando o controle emocional e a secar as lágrimas.

Após tal, estava tão revigorado espiritualmente, que me sentia até mesmo como soldado de Israel subindo a colina com seu escudeiro para infiltrar-se e derrotar o exército inimigo. E fui para o Guepardos Reais fazer a escola sabatina com eles, a qual foi muito gostosa também.

Bem, do dia e da tarde desse dia, não tenho mais muito o que dizer. Apenas, que houveram alguns deliciosos momentos, como aqueles em que o pessoal do quarteto nos reunimos para ficar cantando algumas músicas. E quem diria? Encontramos um primeiro tenor disposto e confiável!!!

Naquela noite também aconteceu algo incrível. Durante a programação da noite, teve o “Desbravador Sabe Tudo” o qual participei ao lado do Leandro Torres, do Mendes, do Ítalo, do Jobson... hehe, perdi. Apesar de ter feito um esquema legal de chute, mas... bem, não foi um método justo. Bem, a Patrícia também havia participado alguns minutos antes. E depois de tudo, enquanto ficava ali com o clube e tudo mais; na hora que fui me despedir do pessoal - pois iria embora com o Erique e o Elton, pois eu tinha que estudar e fazer um trabalho no domingo para a faculdade – a Patrícia, que até então se despedia dando chutes na canela, veio e me deu um abraço tão gostoso e especial, mais ou menos, na altura do umbigo (ela tem apenas 10 anos). Que nossa! Por mim, só aquele abraço, já valeu apena todo o Campori. Depois de tal, fiquei até encabulado para dizer tchau, não havia o que dizer. O abraço disse tudo.

No caminho, voltando para casa, foi um dos papos mais espirituais que já tive em viagem da minha vida. Eu, o Erique e o Elton (tudo “E”) o pensamento era só um; todos estavam com aquela mesma impressão a qual eu estava, todos sentiram o chamado, todos estavam dispostos e ansiosos por agir. E nisso, um diálogo que durou até aqui em Santo André, sem nenhum momento de silêncio, pelo que me lembro. E foi quando, fiquei mais incentivado a finalmente ouvir os sermões do Daniel Spencer, na série Guerra dos Sentidos.


E depois, por volta da meia-noite, ai conversei um tempinho com o Elton na casa dele, até que meu pai chegou então fui para casa. E assim encerrou o Campori para mim. Contudo, fiquei sabendo que no domingo deu uma chuva tremenda na saída, uma daquelas bem típicas “chuvas de campori”. E no domingo, no final da tarde, quando fui para o culto, me deparei junto quando o clube chegou, e o ajudei a descarregar o ônibus e guardar algumas coisas na sede.