16 março 2008

Morre uma criança. Forma-se um homem.

"Como é amargo pensar que precisamos matar a criança para formar o homem!"
Rei Arthur, Allan Massie, p. 47
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Essa é uma das frases de impacto do Best Seller que li ano passado. Numa ótica mais cética e realista - um tanto quanto pessimista - fala da história / estória (?) do rei Arthur; contudo pouco se encontra daquela aventura muito conhecida, mas mais filosofia e episódios estranhos sem nada muito sensacional. O livro é feito como numa narração em que o narrador está contando a história para um rei.

Bem, logo no começo, falando um pouco sobre como surgiu Arthur e um pouco de sua infância. Merlim, um sábio mago, ensinava Arthur (como um professor). E numa autoreflexão ele expressou isso: "Como é amargo pensar que precisamos matar a criança para formar o homem!"

Essa é uma frase chave que descreve uma realidade. É isso que estou passando, ou passei recentemente. Nesse ano tomei uma nova atitude: "Matar a criança para formar o homem!" Posso não ter sido o garoto mais infantil, principalmente após os 16 anos. Mas não era um homem.


Por um lado é triste ver como são os deveres da vida adulta. Confesso, estou sofrendo, não está sendo moleza (mas quem disse que seria?). Essa necessidade de busca pela independência financeira, os deveres e responsabilidades, o desprendimento para um forte individualismo sério, responsável, indesculpável. Não adianta poupar esforços, o mundo não está nem aí para mim ou para você. Ele não espera NADA de nós! De certo modo, ele não está nem aí se você vive ou não, mas se vive você tem que cumprir seu papel como mercado consumidor, para o mundo, eu e você sobreviver.

Está sendo duro ultimamente, principalmente desde Fevereiro quando comecei decisivamente com essa atitude. Tenho estudado muito, buscado estágios entre outros. Algumas decepções como com o tratamento dentário particular. Tenho alguns problemas sérios (desvio da ATM), e terei que passar por umas cirurgias ortognáticas. Contudo, o preço? Maior do que um carro popular zero. Dinheiro? Não tenho nem para comprar um pão frances. Na verdade, tenho que lutar para conseguir fazer o tratamento todo na USP, mas tá embaçado, a burocracia é um 'saco'. Além disso, está complicado a faculdade, 3 professores super exigentes, aulas com o Simon, que para quem conhece, o cara pensa que somos doutores formados e há décadas somos matemáticas experientes. O Fishman, ótimo professor e bom método, contudo, a exigência é grande, e tudo é muito rápido. Em questão de livro, diria que em uma semana, são 100 - 200 páginas de avanço (contando todas as matérias); imagine estudar tudo isso! E também a corrida pelo estágio.

Vou ser sincero, deixei de lado o meu 'eu', até como individuo. Dormir? Só o que for possível. Quantas vezes não dormi 4hrs ou menos, para 6hrs da manhã ir lá para Zona Sul de São Paulo de trem e metro, com "aquelas multidões básica", para fazer várias entrevistas? No Santander, no HSBC, Unibanco... Sempre chegando até a praia, nas últimas etapas do processo seletivo, chegando até as entrevistas pessoais com o gestor. Mas na hora H, de "é você ou não", até agora, só tem dado não. Por que? Alguns fatores: Não sou fluente em inglês, não tenho excel avançado (VBA, macro...), não estou no penúltimo ou último ano, não moro muito perto, não tenho experiência no exterior, e por fim, não sou filhinho de papai. Mas o que vou fazer? Sentar num canto e ficar chorando? Ficar dizendo para os outros "ai de eu!" Me fazendo de vitima e coitado? De modo algum.

Em vista a filosofia que rege o mundo atual, eles tem até razão em me tratar assim. Eu não faria o mesmo? Escolheria eu? Por que? Por que o mundo deve fazer algo por você e por mim? Por que deve dar-lhe uma oportunidade? - principalmente em vista, o realidade que há, e não o ideal que deveria ser - Por isso, tomei uma atitude. Lutarei para desenolver-me. De modo a fazer tais, "IMPLORAREM PARA CONTRATAR-ME". Como alcançar isso? Moleza não vai ser. Noites de sonos serão perdidas. Muito esforço e abnegação. O fim da preguiça e do desperdiço de tempo. O fim da criança. É uma revolução, é um assassinato. De modo algum será fácil.

Tenho que melhorar minha pessoa. Desenvolver minhas capacidades e talentos e sobretudo aquelas não desenvolvidas. Melhorar meu desempenho na faculdade. Avançar na vida academica. Já peguei um curso autodidata de Excel Avançado, estou para começar, pois tenho facilidade em aprender qualquer coisa por um lado. Também iniciei um curso de inglês na Fisk. O problema é que tudo é a custa do dinheiro que não tenho.

De modo maravilhoso Deus tem me concedido recursos. Mês passado conheci uma pessoa pela internet, um programador, através do meu blog de matemática; dei uma consultoria para ele e ganhei uns 500 reais. Só que de tal, já gastei praticamente tudo. Transporte, transporte principalmente. Alimentação. Curso de inglês e excel. Algumas coisas dos desbravadores. A stand para partitura. E como será no próximo mês? Bem, estou dando umas aulas particulares. Se tudo der certo, terei grana para mais 1 mês de inglês. Mas e as outras coisas? E depois?

Também, agora recebi uma proposta ideológicamente irrecusável da Amanda, do trompete Weril dela por 800 reais. (um desconto acima de 50%). Preciso dele. Mas como comprá-lo? Com que dinheiro? Não sou de ficar pedindo dinheiro aos outros. Me sinto péssimo quando tenho que pedir dinheiro para meus pais para o onibus. E normalmente evito ao máximo, indo até mesmo a pé para o centro (1h10min), ou deixando de comer em algumas refeições; ou comendo algo meio pobre nutricionalmente.

Tem sido assim: Acordo em torno das 8 horas da manhã, ou antes. Vou para o inglês ou dar aula. Volto a pé para casa. Chego por volta da 1hora da tarde. Ai esquento a comida e como. Nisso, quando dá, treino 30min - 1h de trompete. Faço algumas flexões nos intervalos. Estudo para a facul e o ingles, além de planejar as aulas. Ai dar uma geral na net, e-mails, blogs que tenho que dar conta; buscar job. 16hrs, tomo um banho rapidão, e já JANTO. 16h45 chega a van, então é rumo a USP. Na van é onde faço normalmente a parte mais devocional, uns 40min-1hora, lendo a Biblia ou o Patriarcas e Profetas; fora as conversas (é normalmente onde mais relaxo) e virou praticamente lei, dar uma cochilada entre a Bandeirantes e a USP. 19h na USP. Ai é aula, às vezes tem o GEA, e nas janelas vou para o CEPE para praticar exercícios físicos. 23 horas de volta a van, go to my house. Aí, 1 hora da madrugada chego em casa. E com muita fome, aí como. E outro dia até passei mal por isso, acordando no meio da madrugada com dor de barriga e vomitando. E aí vou ver uma coisa ou outra, além de comer e dar um tempo para um minimo de digestão e durmo em torno das 2h - 2h30 da madrugada. Mas a noite de sono tem um rendimento muito fraca. Pelo stress, pela correria, pela alimentação noturna, os pensamentos, as mil coisas para fazerem, as coisas que se tem que fazer na manhã seguinte. E nos fins de semana? Bem, na sexta, a noite tem ensaio do coral. Aí ao chegar em casa umas quase 23 horas, vou estudar a lição da escola sabatina e acabo dormindo muito tarde, porque também é quando planejo algumas coisas para o Clube de Desbravadores. Aí é quando finalmente durmo um pouco mais, até umas 9 horas de sábado; tendo que assim, matar o primeiro culto onde o coral canta. Mas eu preciso desse sono. Volto da igreja 1h30 da tarde, almoço.. ai toco um pouco de trompete, estudo um pouco a Bíblia, algumas músicas de louvor... e aí go to igreja novamente, sempre tem algo de tarde. (isso quando o coral não vai cantar em locais distantes). Bem, 20horas estou de volta. Aí lá vai eu verificar se está tudo ok, fazer algumas coisas que sempre tem o que fazer. Aí acabo dormindo tarde de novo. E domingo? Acordo umas 8horas. Pois 9h e pouco tenho que estar nos desbravadores. E no clube é ritmo forte. e 1h - 2h estou novamente em casa. Aí de tarde, quando não tem ensaio a tarde, é quando dou uma relaxada maior (hoje até dormi umas 4 horas a tarde) mas normalmente é quando estudo inglês, toco treino trompete, estudo algumas coisas para facul. E aí acabo dormindo tarde, porque acostumei com isso, meu relógio biológico se acostumou a dormir tarde.

Isso é caos em questão de saúde. Para quem me conhece, vai estranhar o que direi agora. Mas eu me sinto um pouco cansado meio que constantemente; como se não estivesse a todo pique, com todas as energias e forças. Uma idéia constante de querer descansar e dormir. Se mesmo que sento em algum lugar mais tranquilo há uma indução ao sono. Aliás, estou dormindo de dia!!! O que era praticamente impossivel comigo. Outro dia na fila do Semana, sentado no banco, eu acabei dormindo sem perceber, ainda bem que um rapaz me acordou quando apareceu a minha senha. Você sente uma espécie de constante tensão na cabeça. Como se estivesse com o órgão cérebro um pouco enfermo, ardendo um pouco, é uma náusea bem fraca mais constante. Isso tráz alguns agravantes espirituais sérios. Sem contar os olhos cansados, as vezes sensíveis a luz do dia, as olheiras. Pelo menos existe música clássica para relaxar.

Mas e aí? Vou ter pena de mim? Nenhum pouco. Apesar de tudo isso. Vou dizer, estou de bom ânimo, estou empolgado, estou cheio de energias. Não me polpo. Darei o meu melhor e vou ser sincero, não conheço meu limite. Ainda não cheguei nele. Uma vez fiquei 2 dias acordado fazendo uma trilha puxada, com uns 30 kg de carga na mochila, passando por lugares bem dificeis e etc. E ainda não havia chegado no meu limite. Qual o meu limite? Eu não sei. E não imponho um, pois normalmente quando você chega numa suposição, você percebe que não era bem assim e que dá para sempre ir mais.

Por outro lado, estou colhendo aquilo que plantei e que meus pais plantaram. Se desejo subir na vida, sair de algumas fortes tendências impostas, terei que lutar fortemente para isso. E para ser sincero, "Como é amargo pensar que precisamos matar a criança para formar o homem!" Mas hoje olho para a minha infancia, e até meus 16 anos, quando Deus me despertou, retirando das trevas. Foi uma vida vã, vaidade. Perdi tempo, perdi muito tempo. Coisas que dava valor, hoje vejo que não possuem valor nenhum. Ficou muito claro para mim algo que Ellen White diz sobre Educação, falando que as crianças não sabem o que realmente é bom para elas, qual é a verdadeira felicidade. E agora tenho que lutar e sofrer mais para dar conta, pois preciso de coisas em pouco tempo no qual tive muitos anos para fazer e não fiz. Como um curso de inglês, como me esforçar nos estudos; pois tive que ficar 2 anos fazendo cursinho para entrar na faculdade. E se desde criança eu fosse alguem muito estudioso, não só em nível academico mas teológico... o que seria de mim hoje? E se desde pequeno já estudasse música? Talvez a única coisa boa é que sempre fui alguem que praticou mmmuuuito esporte e atividade física. Aliás, se desde pequeno eu fosse vegetariano e cuidasse bem da saúde? E se eu tivesse usado a perereca após o tratamento dentário que terminei aos 14 anos? E se desde pequeno tivesse economizado dinheiro, ao invés de gastar com coisas supérfulas e investido em ações, o que hoje já não teria financeiramente? Se eu lesse desde pequeno, ao invés de ficar dias inteiros jogando video-game?

Que bom é saber que Deus meu perdoou. E que é poderozo e tem grandes planos para mim. E me dá forças para lutar. E pensando bem, eu fico intrigado num campo em que não ouso especular, que é quanto a questão que Deus tem um plano para mim. E que talvez tudo pelo qual passei foi para um propósito. Penso num trecho do livro:

"A intenção de Merlim era forçar Artur a abrir o próprio caminho no mundo, pois dizia: "Aprendi que a dureza é a escola adequada para a excelência." Por isso despachou Artur sozinho, montado em um robusto pônei e levando ao alforje provisões para dois dias. Assim Artur deixou para trás a infância[ele mal itnha 14 anos] e rumou para o sul; não se deve imaginar que Merlim não tenha derramado uma lágrima ao observar o menino subir o vale sinuoso e desapaeecer de vista."
p.52
e uma outra:
"
- Lembra-te - disse Merlim - que acima de tudo "todo homem tem o seu dia; todo homem tem um período de vida, curto e inalterável; mas através de atos podemos ampliar a nossa fama; esta é a tarefa da virtude e da coragem."
p. 51

Bem, fixo na idéia de "Aprendi que a dureza é a escola adequada para a excelência." Isso me faz lembrar de José, o mimado filho de Jacó, o qual foi preciso ser escravo no Egito, ser preso injustamente, para depois ser governador, alguem de grande influência com o qual podê fazer bem para muitos, inclusive sua própria família. Assim também me vejo, estou sendo forjado. Se é ideal que eu não durma, e que fique 3 semanas com a mesma gripe, porque o imunológico não fica bom pois não durmo, entre outros? Claro que não. Mas preciso passar por isso. Para que até mesmo possa valorizar mais a saúde, e um dia agradecer a Deus de todo coração quando repousar numa cama para dormir, sabendo que muitos estão dormindo no sereno numa calçada. E também para agradecer se um dia alcançar a estabilidade financeira-academica-profissional de modo a poder todos os dias 22h, estar já repousando.

Também me recordo de José, que teve que trabalhar mais de 7 anos para um tio corrupto. Para conseguir a estabilidade financeira, uma "casa" - vamos assim dizer - e uma esposa. Do mesmo modo, vejo, que ainda terei que dar muito sangue, trabalhar muito, dar muito duro, noites sem dormir, para que alcanse tais bênçãos (não que conquistarei elas; mas é que certamente, preciso passar por tais situações, aprender lições, e refinar um caráter, de modo que a que esteja capacitado para Deus me abençoar devidamente com elas. Pois aliás, do que adianta jogar 5 toneladas de ouro em cima de um carrinho de mão e dizer: "Toma, é seu, carregue.").

Não reclamo da situação que estou passando. Vejo como um processo, uma etapa, uma fase da vida onde é necessário passar por ela. Se houve outras determinadas situações, como uma família mais estável e estruturada; certamente não passaria por tamanha intensidade. Mas vejo tudo isso como uma providência de Deus - "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito." Rom. 8:28 - de modo a me refinar, a me dar lições, para me dar maior base, estrutura, resistência, uma mão mais calejada; para que fique robusto espiritualmente. Pois pense bem, de certo modo, todos os grandes personagens biblicos passaram por grandes labutas. Adão teve que sacrificar um cordeiro; Noé pregar aos escarnecedores e passar vários dias em meio ao mar em tormentas; Abraão, matar o próprio filho; Jacó, trabalhar para Lavão e fugir de casa e da fúria do irmão; José, ser quase morto pelos irmãos, ser escravizado, ser preso; Moisés, dispensa comentários; Josué; ...; Sansão, perdeu a visão; Davi, teve que viver se escondendo em cavernas; Elias, teve que viver isolado do mundo por anos, inimigo para sua própria nação; ...; Jesus, 40 dias no deserto, sendo tentado pessoalmente por Satanás; Paulo, perder a visão; Daniel, cova dos leões; etc.

Mas não desistir! Manter sempre bom animo. Pois eis que Cristo vive mim. Deus está comigo. Ao quê, a quem, temerei? Tenho o céu a ganhar, a vida eterna. Por que resmugar? Para que reclamar? Ser pessimista, como? Há anjos do bem comigo. Tenho amigos sinceros, amigos e pessoas que oram por mim. Tenho as preciosas promessas de Deus. Sinceramente, é até um prazer passar por tudo isso, por todas essas privações. E fora, que além disso tudo, há tantas pessoas num estado pior do que o meu, com famílias assassinadas, passando por fome, moléstias, guerras, e, principalmente, pessoas que vivem nas trevas, nos laços de Satanás, nas trevas da ignorância. Bendito seja o nome de Deus, porque até aqui nos ajudou o Senhor!